a verdade é que eu simplesmente não consigo mais me perder entre os nacos de carne que ofereço com volúpia para um outro que me desperte, por um momento que seja . O sangue ficou tão negro e caudaloso,quem bebe engasga no meio, ou engole todo ou cospe fora. A carne de tão dura machuca o maxilar,e a saliva é pouco eficaz no processo de mastigação.Os anos cumpriram seu ritual, sou uma criatura que rasteja na sujeira dos mortais, lambendo a lama que sai dos corpos,não me importam hierarquias, nem alianças,me alimento do não e do destroço,nutro gosto pelas confissões que brotam das noites clandestinas.Contudo, há alma aqui também, uma alma que pulsa e nasce da lama.Da lama vem a alma, sou toda alma e lama.
E por isso não me perco mais na sujeira que eu mesma invoco ao meu redor.Sou alma e sou lama,sem uma não sei o que sou.E isso é uma certeza que me acompanha nos dias de negras resoluções.Os dias que são de aço frio, amortalhando as carnes que jazem sem saber que estão mortas há muito.E eu alma querendo a lama, lama querendo alma.Lá fora as pessoas dormem, convictas de que são amadas,enquanto sobre outras é despejada a podridão da humanidade, só nós sabemos que a verdade não existe,tampouco a eternidade.Somos amantes da lama. Lama viciante,eu te invoco com gozo, e não me arrependo, pois me fortaleço com a face das coisas ocultas. Quanto a você, sugiro que pergunte qual a cor do meu olho, porque eu sei a cor do seu e também sei a impressão que cada vinco do seu rosto me causou.Na era dos encontros que são despedidas.
Aysha San 11/04/11 às 3:02 a.m.