terça-feira, 4 de setembro de 2012

ERA ESTRANHO

Era estranho.

     Haviam se conhecido no meio da praça, os dois estavam com pressa, mas houve tempo para um beijo. Ela não pôde conter a surpresa com aquele contato, a língua dele era sinuosa, não pediu licença para invadir sua boca  percorrendo tudo e deixando um rastro.
     Tiveram alguns encontros furtivos, resultado de ligações inesperadas no meio das tardes. As sensações a mantinham ali, num estado de letargia e prazer. As línguas se entendiam, parecia que elas tinham vida própria. Mas ela não se detinha nas feições da boca dele, ou dos olhos. Seu corpo só respondia às sensações que ele lhe trazia. Então, fechava  os olhos e participava daquele ritual prazeroso, sem perguntar por  nada.

      A maneira como ele mordiscava seus seios, e quanto mais ela gritava mais ele imprimia ânsia no ato, como se soubesse elevar o tom do grito dela. Ela, numa mistura de prazer e dor, ficava assustada pela surpresa daquela nova sensação.
      E a língua dele, ah aquela maldita língua não se cansava de inquirir cada parte do seu corpo e a sugava sem tomar fôlego, como se fosse engoli-la. Possuíam uma química incomum.
      Contudo, depois de cada encontro, curiosamente,  ela esquecia as feições dele. Por mais que procurasse na memória as linhas do seu rosto, não se lembrava, simplesmente não sabia que rosto tinha.
       Chegou então a supor nos seus devaneios que ele fosse um demônio enviado para tentá-la, para que o pecado parecesse algo que devesse pagar o preço para sentir. E era isso mesmo, ele era um demônio, porque um anjo não poderia ser,afinal tesão não podia ser algo divino. Talvez sua mente propositalmente a fizesse esquecer seu rosto para que guardasse somente as sensações dos encontros, porque sensações não têm donos, nem horário ou lugar marcado para acontecerem. Elas são absolutas e livres.
           Como explicar o mistério do menino sem rosto? Não poderia, chegou a duvidar que ele fosse de carne e osso, será que estava ficando louca?
Todos  os dias se perfumava e se vestia  como se fosse encontrá-lo. E tudo ocorria tão rapidamente que ela sequer conseguia fitar seus olhos para guardar alguma lembrança de seu rosto. Era um redemoinho, uma explosão de fluídos deliciosamente humanos. O que faziam era o verdadeiro sexo, hoje ela sabia, depois de tantos anos de amor mal cuspido, que a corroeu por dentro e por fora, dessa vez ela não tinha dúvidas, porque sequer se dava ao direito da pergunta. As sensações envolviam os dois como uma névoa estupidamente real, o que ela sentia não era amor, era TESÃO dos bons.

                                                                                                              Aysha Santiago 5/9/12, 00:46.