Posso rememorar com detalhes, cada paixão que tive.E não foram muitas, tanto que ainda tenho todos os dedos da mão esquerda e os dos pés intactos.O curioso é que apaixonar-se é como atuar, no exato instante que você se imbui daquele papel é como se a atmosfera condensada de sensações apregoasse pelas carnes e pelos ossos e aglutinassem o corpo num só movimento. Foi assim que as minhas paixões tomaram forma,elas tiveram a agudeza de me prender a atenção, a primeira ainda na curva dos 16, sinalizava uma relação de admiração que ainda não experimentei novamente.Eu era uma aprendiz sempre arguta observadora encantei-me pelas mãos. O excesso de charme cominado com um perfume não me passou despercebido.a paixão passou quando me dei conta da condição mortal do meu mestre.A primeira é quase sempre a mais memorável.Rendeu-me muito suor e um título.a segunda, no limiar da maioridade foi de um platonismo pungente e a mais idealista de todas. Ele foi meu deus ébano e creio que nunca terá consciência disso.
Com ela aprendi a ter coragem de ouvir o que se tem prá dizer.E a partir daquele dia isso pra mim é fundamental, buscar e ouvir as palavras.Sempre há algo a dizer.a terceira, um sonho que nunca vivi pois não era meu.talvez pela vivacidade e mistério, que não se faz mais presente, acreditei que houvesse sintonia.apostei na entrega.mas como pode haver uma doação de coisas que não te deixam pertencer?não me via ali, aquela relação me dava a impressão de que prá se concretizar eu teria que ser outra.nunca o senti pleno.sucumbi tentando revelá-lo prá mim.desisti. época de tormentos e agonias que não ouso despertar.a quarta um engodo com um perfume inesquecível 212,um nome soletrado pelo destino,o meu Rio.restou-me uma pulseira e sua singela poesia. a quinta (considero o sexto dedinho da mão direita),fulminante.durou exatamente uma semana.sábado memóravel.um quase estranho que, paradoxo, conhecia há anos. uma sintonia "lança perfume".sexta, o falso pretendente perfeito.a serenidade superficial em forma de guri.
Uma moda de viola que se repetiu por tempo demais.sem nenhuma razão plausível.Todas essas agora estão em terreno isolado, porque as paixões encerram um paradoxo em si mesmas quando findam.e por que findam? prá mim elas não morrem, apenas cumprem seu papel, como boas dramaturgas.Agora, me arrisco a supor mais uma? seria a sétima?posso dizer sem medo que "foi" a mais divertida, com quem tive a gargalhada mais intrínseca, de cheiro mais profuso,de feição e modos exóticos e pitorescos numa atmosfera dionísica ideal para a nossa tragicomédia,a dúvida sobre sua real personalidade como,talvez uma forma de se auto- afirmar ou se defender, maquiando o encanto dos olhos e da covinha que eu percebi na primeira olhadela desinteressada, a intensidade insuportável que me fez cambalear, o medo confesso levianamente ou como desabafo?Se fosse pra mentir que estivesse ao menos com os inseparáveis óculos de sol.
Sim, porque me é doloroso constatar que uma paixão incomum deixou-se quedar assim.Não com aquela intensidade descomunal, não com minha risada tão minha.A falta de explicação para a concretude dos fatos me deixa indefesa.eu que me supunha outra.bem maior.o silêncio serve como resposta.o silêncio e um nick que ,custa-me, não ser prá mim.o consolo, mesmo que não por hora, é saber que como as outras dramaturgas, essa paixão também cumprirá seu papel e se findará. E, como todo ator se sente muito ligado à sua última atuação, ainda estou ligada a essa sétima.a sétima com gosto de pinga de maracujá.(E claro que perderia totalmente a graça se eu sempre escrevesse cartas de paixão esperando resposta.Desculpe, apostei que pudesse responder.errei.) .
É preciso sentir um pouco da dor prá se curar. Assim versa um princípio da homeopatia.
Aos poucos vou construindo um barraquinho resistente em frente ao mar.
Bella 18/03/08 às 4:59 a.m.
um dos paradoxos das paixões: todas elas seguramente estão dormindo essa hora, sem vestígios de lembranças minhas. *
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